Galáxia pode ter 17 bilhões de 'Terras', diz estudo.
Até uma em cada seis estrelas pode abrigar em sua órbita um
planeta do tamanho da Terra, segundo uma pesquisa divulgada nesta semana. Com
base nesse dado, os autores da pesquisa afirmam que pode haver um total de 17
bilhões desses planetas em toda a galáxia.
A pesquisa, divulgada no encontro semestral da Sociedade
Astronômica Americana, na Califórnia, foi baseada em análises de possíveis
planetas revelados pelo telescópio espacial Kepler.
A equipe responsável pelo Kepler também anunciou 461 novos
candidatos a planetas, elevando a 2.740 o número total de planetas já identificados.
Desde seu lançamento, em 2009, o telescópio Kepler vem
observando uma parte fixa do céu, captando mais de 150 mil estrelas em seu
campo de visão.
Ele detecta a diminuta redução na luz que chega de uma
estrela quando um planeta passa em frente a ele, no que é chamado trânsito.
Mas essa é uma medida difícil de se fazer, com a luz total
mudando apenas frações de porcentagem. Além disso, nem toda redução se deve a
uma estrela.
O astrônomo François Fressin, do Centro Harvard-Smithsonian
para Astrofísica - que descobriu o primeiro planeta do tamanho da Terra -
começou a tentar descobrir não somente quais candidatos detectados pelo Kepler
podem não ser planetas, mas também quais planetas podem não ser visíveis ao
Kepler.
"Temos que corrigir duas coisas. Primeiro, a lista de
candidatos do Kepler é incompleta", disse Fressin à BBC.
"Nós somente vemos os planetas que estão em trânsito
pelas suas estrelas hospedeiras, estrelas que por acaso têm um planeta que está
bem alinhado para que nós o vejamos. Para cada um deles, há dezenas que não
estão nessas condições", explica.
"A segunda grande correção é na lista de candidatos -
há alguns que não são planetas verdadeiros transitando sua estrela hospedeira,
são outras configurações astrofísicas", diz.
Isso pode incluir, por exemplo, estrelas binárias, nas quais
uma estrela orbita outra, bloqueando parte da luz conforme as estrelas
"transitam"umas às outras.
"Nós simulamos todas as possíveis configurações em que
podíamos pensar - e descobrimos que elas poderiam representar apenas 9,5% dos
planetas Kepler, e que todo o resto são planetas genuínos", explicou
Fressin.
Os resultados sugerem que 17% das estrelas hospedam um
planeta com tamanho até 25% superior ao da Terra, com órbitas fechadas que
duram apenas 85 dias ou menos - semelhante ao do planeta Mercúrio.
Isso significa que a galáxia abrigaria ao menos 17 bilhões
de planetas do tamanho da Terra.
O estudo divulgado por Fressin foi complementado pelos
resultados de uma pesquisa do astrônomo Christopher Burke, do Seti Institute,
que anunciou a descoberta de mais 461 candidatos a planetas.
Desse montante, uma fração substancial tem o tamanho da
Terra ou não são muito maiores - planetas que até agora vinham sendo
particularmente difíceis de serem detectados.
"O que é particularmente interessante é que quatro
desses novos planetas - com menos de duas vezes o tamanho da Terra - estão
potencialmente na zona habitável, a localização em torno de uma estrela onde
poderia potencialmente haver água líquida para sustentar a vida", disse
Burke à BBC.
Um dos quatro planetas, batizado de KOI 172.02, tem apenas
uma vez e meia o diâmetro da Terra e orbita uma estrela semelhante ao Sol - no
que seria a versão mais próxima já descoberta de uma "gêmea" da
Terra.
"É muito animador, porque estamos realmente começando a
aumentar a sensibilidade a essas coisas na zona habitável - estamos realmente
só chegando à fronteira dos planetas que podem potencialmente ter vida",
diz Burke.
William Borucki, um dos líderes da missão do Kepler, se
disse "encantado" com os novos resultados.
"A coisa mais importante é a estatística - não
encontramos somente uma Terra, mas cem Terras, que é o que veremos com o passar
dos anos com a missão Kepler - porque ele foi desenvolvido para encontrar
várias Terras", disse.