A vizinhança da Terra na Via Láctea merece mais respeito
A vizinhança do nosso Sistema Solar na Via Láctea está
maior. Nós vivemos entre dois grandes braços espirais da nossa Galáxia, numa
estrutura chamada Braço Local.
Novas pesquisas usando a visão rádio ultra-nítida do VLBA
(Very Long Baseline Array) indicam que o Braço Local (também chamado Braço de
Orion), que se pensava ser uma zona pequena, é na realidade mais parecida com
os grandes braços adjacentes, e é provavelmente um ramo importante de um deles.
"As nossas evidências sugerem que o Braço Local devia
aparecer como uma característica proeminente da Via Láctea," afirma
Alberto Sanna, do Instituto Max-Planck para Radioastronomia. Sanna e colegas
apresentaram os seus achados numa reunião da Sociedade Astronômica Americana em
Indianapolis, Indiana, EUA.
A determinação da estrutura da nossa própria Galáxia há
muito que é um problema para os astrônomos porque estamos dentro dela. A fim de
mapear a Via Láctea, os cientistas necessitam de medir com precisão as
distâncias até objetos dentro da Galáxia. No entanto, a medição das distâncias
cósmicas é também uma tarefa difícil, o que leva a grandes incertezas. O
resultado é que, enquanto os astrônomos concordam que a nossa Via Láctea tem
uma estrutura espiral, não conseguem encontrar um consenso sobre o seu número
de braços e as suas posições específicas.
Para ajudar a resolver este problema, os cientistas
voltaram-se para o VLBA e para a sua capacidade de fazer as medições mais
precisas, à disposição dos astrônomos, de posições no céu. O VLBA permitiu com
que os astrônomos usassem uma técnica que produz medições precisas de
distâncias, de forma inequívoca e através de trigonometria simples.
Ao observar objetos quando a Terra está em lados opostos da
sua órbita em torno do Sol, os astrônomos podem medir a sutil mudança na
posição aparente do objeto no céu, em relação ao fundo de objetos mais
distantes. Este efeito tem o nome de paralaxe, e pode ser demonstrado colocando
um dedo perto do nariz e fechando alternadamente cada olho. A capacidade do
VLBA para medir com precisão as muito pequenas mudanças na posição aparente
permite aos cientistas usar este método trigonométrico para determinar
diretamente distâncias muito mais longínquas da Terra do que era antes
possível.
Os astrônomos usaram este método para medir as distâncias de
regiões formação estelar na Via Láctea onde as moléculas de água e metanol
impulsionam as ondas de rádio, da mesma forma que um laser estimula ondas de
luz. Estes objetos, chamados masers, são como faróis para os radiotelescópios.
As observações do VLBA, realizadas entre 2008 e 2012, produziram medições
precisas da distância de masers e também permitiram aos cientistas acompanhar o
seu movimento pelo espaço.
Um resultado surpreendente foi uma atualização do estado do
Braço de Orion no qual o nosso Sistema Solar reside. Nós estamos entre dois
grandes braços espirais da Galáxia, o Braço de Sagitário e o Braço de Perseu. O
Braço de Sagitário está mais perto do Centro Galático e o Braço de Perseu está
mais para fora na Galáxia. Pensava-se que o Braço de Orion era apenas uma
estrutura menor entre os dois braços maiores. Os detalhes desta descoberta
foram publicados na revista Astrophysical Journal por Xu Ye e seus
colaboradores.
"Com base nas distâncias e nos movimentos medidos, o
nosso Braço Local não é uma área de pequena importância. É uma grande
estrutura, talvez um ramo do Braço de Perseu, ou possivelmente um segmento
independente de um braço," afirma Sanna.
Os cientistas também apresentaram novos detalhes sobre a
distribuição da formação estelar no Braço de Perseu e no Braço mais exterior e
distante, que engloba uma deformação na nossa Galáxia.
As novas observações fazem parte de um projeto em andamento
com a sigla BeSSeL (Bar and Spiral Structure Legacy), um grande esforço para
mapear a Via Láctea usando o VLBA. A sigla honra Friedrich Wilhem Bessel, o
astrônomo alemão que fez a primeira medição precisa da paralaxe estelar em
1838.
O VLBA, inaugurado em 1993, usa dez antenas parabólicas com
25 metros de diâmetro distribuídas desde o Hawaii até às Caraíbas. Todas as dez
antenas trabalham como um único telescópio com o maior poder de resolução
disponível na astronomia. Esta capacidade única produziu contribuições
marcantes em vários campos científicos, desde placas tectônicas na Terra,
pesquisa climatérica, passando por navegação de naves espaciais até cosmologia.