Especialistas da Nasa comentam a nova descoberta de Curiosity
Uma rocha sedimentar encontrada pelo jipe-robô Curiosity em
Marte contém seis elementos químicos necessários à existência de micróbios -
enxofre, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, fósforo e carbono - e sugere que o
planeta já foi habitável.
A descoberta, anunciada ontem por cientistas do projeto no
quartel-general da Nasa, em Washington, foi a conclusão da análise de um lamito
--uma rocha que continha minerais de argila e sulfatos. Formados num local que
tinha água, os elementos no mineral poderiam dar suporte a reações químicas do
metabolismo de um ser vivo.
"Essa rocha é bem parecida com o tipo de coisa que
achamos na Terra", disse John Grotzinger, chefe científico da missão do
Curiosity.
"Encontramos um ambiente habitável tão benigno e
amigável à vida que, se essa água ainda existisse e nós estivéssemos ali no
planeta, poderíamos bebê-la."
O jipe-robô ainda não encontrou substâncias orgânicas, que
seriam um sinal inquestionável da existência de vida em Marte. Os cientistas,
porém, afirmam que isso já não é mais necessário para dizer com segurança que o
planeta era habitável, pois a maioria das bactérias da Terra metaboliza
substâncias inorgânicas.
A análise química da amostra de rocha foi feita por dois
instrumentos do jipe. O primeiro, batizado de SAM, tem um espectrômetro de
massa que identifica elementos químicos. O segundo, Chemin, identifica e
quantifica minerais da amostra.
O Curiosity encontrou a rocha sedimentar na baía de
Yellowknife, na cratera Gale, perto do local onde pousou.
Ainda não se sabe que tipo de paisagem aquática a região
exibia. Poderia ser um lago sazonal ou um rio, por exemplo.
"As rachaduras que a gente vê na superfície parecem
mesmo uma lama seca", diz Nilton Rennó, pesquisador brasileiro que
trabalha na missão do Curiosity.
"Aquela água pode ter saído de uma fenda hidrotermal,
formada por atividade vulcânica que derrete gelo subterrâneo e expele a água
para a superfície."
Segundo os cientistas da missão, outro aspecto importante é
o fato de o lamito achado na cratera conter tanto compostos oxidados (que dão
às rochas aspecto avermelhado) quanto não oxidados (de cor acinzentada).
Isso permitiria aos micróbios extrair energia do ambiente à
sua volta da mesma forma como uma bateria elétrica extrai energia de um arranjo
químico com diferentes componentes.
Apesar do entusiasmo com a descoberta, cientistas estão
céticos quanto à possibilidade de achar matéria orgânica em Marte.
"Encontrar substância orgânicas em rochas muito antigas já é difícil aqui
na Terra", diz Paul Mahaffy, chefe de operações do SAM.
O Curiosity deve seguir viagem ainda neste ano para a base
do monte Sharp, no meio da cratera Gale.
Muitas questões sobre o passado geológico do local poderão
ser investigadas lá, onde camadas do terreno estão expostas e acessíveis.
"Mas o lugar onde estamos agora é tão interessante que
não estamos com tanta pressa para andar", diz Rennó.
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