Sem verba, projeto brasileiro de levar sonda a asteroide segue na prancheta
Pesquisadores de diversas universidades brasileiras estão
debruçados sobre uma ideia ousada: pousar uma sonda em um asteroide próximo da
Terra (NEA, de Near-Earth asteroids, em inglês).
A tarefa não é simples: apenas três missões coletaram dados
de asteroides antes - e nenhuma de um corpo de sistema triplo*, como é o caso
do alvo, 2001 SN263. Embora a perspectiva anime os cientistas, um grande
entrave, velho conhecido da exploração espacial, ainda atrapalha o início da
missão Aster: o dinheiro.
O professor e pesquisador Othon Winter, da Universidade
Estadual Paulista, responsável pela parte científica do projeto, estima o custo
total em US$ 40 milhões. O montante representa o custo de desenvolvimento de
tecnologias e componentes brasileiros e o de compra de estruturas da Rússia. O
valor seria suficiente para lançar a sonda, pousá-la dois anos depois no maior
asteroide do sistema 2001 SN263, de 2,8 km de diâmetro, estudá-lo e buscar não
apenas um feito inédito, mas conhecimentos substanciais para a área espacial.
Tecnologias
É esse conhecimento que move a missão, segundo o professor e
pesquisador Antonio Gil Vicente de Brum, responsável pela equipe que desenvolve
o altímetro laser na Universidade Federal do ABC (SP). "Muitas tecnologias
acabam sendo incorporadas no dia a dia, como é o caso de equipamentos
utilizados nas telecomunicações e da navegação por satélite (GPS). Em termos
científicos, nunca antes um asteroide triplo foi estudado de perto e esta é,
portanto, uma oportunidade única de o Brasil contribuir para a ciência mundial
com conhecimento original", afirma.
Brum elenca dois objetivos principais para o projeto: ajudar
a compreender o início do sistema solar (por conseguinte, da Terra) e aprender
mais a respeito de corpos celestes que se aproximam da órbita do nosso planeta
e ameaçam populações terrestres. Além disso, segundo ele, asteroides devem
atrair ainda mais a atenção no futuro, já que poderão ser explorados por suas
riquezas minerais.
A iniciativa ainda tem como objetivo atrair a atenção dos
jovens no País para a pesquisa científica. "Para o Brasil, esta é uma
oportunidade sem precedentes de reunir praticamente toda a comunidade
científica em torno de um projeto de grande apelo público. Está aí um meio de
incentivar nossos jovens em carreiras científicas e de engenharia, áreas para
as quais hoje o jovem não se sente atraído por causa da característica do
Brasil de comprar tecnologia em vez de produzi-la. Achamos que o projeto pode
alavancar a ciência e tecnologia no País de uma maneira nunca antes
alcançada", afirma.
A espera
Como o Brasil não tem um Veículo Lançador de Satélites (VLS)
em pleno funcionamento, teria que recorrer à Rússia para lançar a sonda. Esse
seria um dos maiores custos. "É como se planejássemos uma expedição para
escalar uma montanha com moderno equipamento de alpinismo (cordas, GPS etc),
mas não tivéssemos um veículo (um simples jipe) para chegar até a montanha.
Precisaremos de uma carona", compara Naelton Mendes de Araújo, astrônomo
da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro. "Pode parecer 'colocar
o cavalo à frente da carroça', mas é bem melhor do que ficar esperando
indefinidamente o nosso VLS ficar operacional".
Mas a espera pelo projeto Aster também é grande. Faz quase
cinco anos que a missão foi concebida originalmente pelos pesquisadores Elbert
Macau (LAC-Inpe) e Othon Winter (Unesp), em 2008. Desde então, diversas
universidades abraçaram a história, componentes foram desenhados e até a
parceria com a Rússia, definida.
Parceria
A escolha pela Rússia se deu após a análise da viabilidade
da ideia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na comparação
de custos com a Agência Espacial Americana (Nasa) e a Agência Espacial Europeia
(ESA), a agência russa (Roscosmos) levou a melhor. Assim, em 2010, o então
diretor associado de espaço e ambiente do Inpe, Haroldo de Campos Velho,
reuniu-se com representantes do Instituto de Pesquisas Espaciais da Academia
Russa de Ciências e outras instituições para discutir a possibilidade de uma
parceria estratégica, em reuniões realizadas em Moscou e em São José dos Campos
(SP). Os números delineados poderiam viabilizar o projeto, segundo Campos.
O financiamento
De acordo com Campos, o projeto foi bem recebido pela
Agência Espacial Brasileira, mas reestruturações no comando da AEB e do Inpe
teriam atrasado o início da implementação. "Para tornar todo o processo
mais confortável, a AEB enviou uma carta ao diretor do Inpe (Leonel Perondi),
manifestando o interesse na missão. Com a resposta do Inpe, iniciar-se-ão as
ações para o desenvolvimento (financiamento) da missão. Não há uma proposta
pronta, mas a intenção é solicitar recursos inclusive para agências de fomento
(CNPq, Finep) e órgãos regionais", explica.
Em janeiro deste ano, a AEB lançou o novo Programa Nacional
de Atividades Espaciais (PNAE), que contempla todas as ações do programa
espacial entre 2012 e 2021. Nele, porém, não se encontra menção ao projeto
Aster nem alocação de recursos para a missão. "A AEB vê com simpatia esse
projeto, mas ele é do Inpe. A gente não quer se intrometer nas questões
internas do Inpe. A missão Aster implica em um orçamento que não existe hoje. A
missão Aster é muito importante. Qualquer um que entenda do assunto sabe disso,
mas a questão mais importante hoje é saber quem é que vai pagar por isso",
avalia José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da
AEB.
Em 2013, o investimento de recursos próprios da AEB será de
R$ 622,6 milhões, segundo o PNAE. Conforme Monserrat, contudo, o Inpe terá que
buscar outras formas de financiamento: "Neste momento, o governo
brasileiro não tem condições de manter este projeto. Não há dinheiro
disponível. Ninguém é contra. Ninguém quer criar obstáculos. A ideia é, através
do Inpe, buscar apoio financeiro na iniciativa privada, e pública também, como
a Petrobras. Seria ótimo se a Petrobras pudesse financiar esse projeto, por exemplo.
Sem verba, não tem nada aprovado. A base de apoio financeiro não existe".
Mesmo assim, Winter acredita em um desfecho positivo:
"Os projetos científicos já estão sendo desenvolvidos, o propulsor etc.
Mas são projetos. Colocar tudo isso em ação, só depois da aprovação
oficial". O cronograma inicial previa o lançamento da sonda em 2015.
Depois, 2016, 2017. Atualmente, Campos afirma: "Estamos trabalhando para
que o lançamento ocorra em 2018". Por enquanto, a missão Aster não sai do
papel.
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