Sonda vai enviar minilaboratório para pousar em núcleo de cometa
Um projeto concebido há duas décadas está perto de ser
concluído, depois de quase dez anos de viagens pelo Sistema Solar.
A sonda espacial europeia Rosetta, lançada em 2004, deverá
sobrevoar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em 2014, além de enviar um
minilaboratório, o Philae, para pousar no núcleo do corpo celeste, um feito
inédito.
Cometas são verdadeiros "fósseis" espaciais,
surgidos há bilhões de anos e mantendo basicamente a mesma composição química.
Ao passarem perto do Sol, criam a famosa cauda luminosa que
os caracteriza, ejetando poeira, água e outras substâncias.
A ESA (Agência Espacial Europeia) já tinha tradição no
estudo desse tipo de astro. A sonda Giotto passou a meros 600 km do núcleo do cometa
Halley em 1986. Foi um feito impressionante, que deu ímpeto ao ainda mais
ambicioso projeto Rosetta.
O nome da sonda é uma homenagem à Pedra de Roseta,
encontrada no Egito e que ajudou a decifrar a antiga escrita egípcia de
hieróglifos, pois o mesmo texto também está escrito em grego; Philae é uma ilha
onde foi achado um obelisco também usado na decifração.
As duas sondas também pretendem "decifrar" os
enigmas dos cometas.
A ideia foi aprovada em 1993 e seu projeto começou em 1996,
na empresa Astrium, a maior do setor espacial na Europa. Desde então o
engenheiro Gunther Lautenschlaeger está envolvido com a missão.
"Em primeiro lugar, estou esperando nervosamente o
despertar da Rosetta em janeiro de 2014 e interessado em saber como o 'nosso
bebê' sobreviveu a mais de dois anos sem nenhum contato com a Terra",
afirmou Lautenschlaeger à Folha.
A Rosetta vai monitorar a passagem do cometa pelo Sistema
Solar, com especial atenção para sua atividade ao ser aquecido pelo Sol.
O laboratório Philae vai estudar a composição do núcleo do
cometa. O módulo de pouso vai fazer um furo de 20 cm de profundidade para
coletar amostras para análise pelo laboratório de bordo.
Graças a novas tecnologias de células solares, a sonda é a
primeira a ir além do cinturão de asteroides dependendo apenas de energia
solar, em vez dos tradicionais geradores térmicos.
A 800 milhões de quilômetros do Sol, o nível de radiação é
apenas 4% daquele que atinge a Terra.
"Nenhuma missão anterior viajou tão longe no espaço
profundo, perto de Júpiter, apenas com painéis solares; ela é com certeza uma
'espaçonave verde'", disse o engenheiro, gerente do projeto na Astrium.
A sonda tem dois painéis solares de 14 metros de comprimento
cada um. Os 11 instrumentos a bordo ficam concentrados no lado que será
direcionado ao cometa e são capazes de medir a composição, a massa e o fluxo de
poeira do núcleo, além da interação do cometa com o vento solar de partículas
carregadas eletricamente.
"Creio que a sonda vai se encontrar precisamente com o
cometa e escoltá-lo chegando mais perto do Sol. Aqui começará a incerteza, com
coisas como erupções e poeira. Mas a Rosetta foi projetada para
sobreviver", disse Lautenschlaeger, que há dezessete anos aguarda pelo
sucesso final da missão.
A parte mais "perigosa" dessa trajetória, no
entanto, é o passo final, a ser dado em novembro de 2014: o pouso do
minilaboratório Philae no núcleo do cometa.
Segundo o engenheiro, o módulo foi projetado para áreas de
pouso extremas, mas a gravidade do cometa, cujo núcleo tem 4 km de diâmetro, é
muito baixa. "E ninguém sabe exatamente o que há na superfície",
afirmou.
"Pode ser poeira macia, na qual ele vai afundar;
ferrita sólida, na qual pode se arrebentar; ou uma superfície de fendas, onde
pode cair de lado ou de cabeça para baixo."
O que resta às equipes é cruzar dedos até 2014.
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