Asteroides podem valer bilhões, e Nasa impulsionaria "conquista"
Um projeto ambicioso da Nasa consta na proposta do orçamento
de 2014 dos Estados Unidos: capturar um asteroide de pequeno porte e
redirecioná-lo para a órbita lunar, onde astronautas o explorariam a partir de
2025.
Além de estudar os corpos celestes, a missão pode
impulsionar a mineração espacial, um mercado multibilionário e inexplorado.
A ideia da Nasa vai muito além da ótica financeira. Analisar
um asteroide de perto pode produzir aprendizado extremamente útil, a respeito
de sua natureza e até das origens do universo. E não dá para esquecer que, de
vez em quando, esses corpos celestes se transformam em ameaça, ainda mais
quando insistem em rumar em nossa direção. Por isso, não é possível prescindir
desse conhecimento.
Essa missão terá verba inicial de US$ 105 milhões. É uma
pequena parte dos fundos projetados para a Nasa no próximo ano, que ainda
dependem da aprovação do congresso: US$ 17,7 bilhões, ou seja, 0,5% do
orçamento federal. Estima-se, no entanto, que o custo total para a empreitada
possa chegar a US$ 2,6 bilhões.
Potencial
Não é de se espantar. Caso se confirme, o projeto pode
desvelar um mercado altamente rentável. Dotados de grandes quantidades de água
e minerais, recursos úteis e valiosos, os asteroides atraem a atenção da Nasa e
despertam o interesse de empresas privadas, como a Deep Space Industries (DSI)
e a Planetary Resources, as quais já anunciaram planos para principiar a
mineração espacial na década de 2020.
Só quando se souber mais a respeito dos asteroides é que se
poderá explorá-los comercialmente. E esse é o foco da DSI, que calculou o valor
do asteroide 2012 DA14, o qual passou próximo da Terra no dia 15 de fevereiro
deste ano. Segundo a empresa, o corpo celeste continha US$ 65 bilhões em água
recuperável e US$ 130 bilhões em minerais.
Composição
De acordo com Fernando Roig, doutor em astronomia e
pesquisador do Observatório Nacional (ON), os asteroides são ricos em ferro,
níquel e cobalto, além da platina, rara na Terra e bastante utilizada na
indústria. "Minerais como esse podem ser encontrados, em um único
asteroide, em quantidades muito maiores que as exploradas anualmente na Terra.
E eles se encontram em um estado de pureza que não existe na Terra, pois aqui
os minerais, como o ferro, estão sempre contaminados com outros minerais",
elucida.
Existem três tipos principais de asteroides: os ricos em
minerais, os que se constituem principalmente de rochas e os que são ricos em
compostos de água e carbono. "O primeiro e o último têm materiais que
podemos usar. Metais do grupo da platina são extremamente valiosos na Terra, e
a água é extremamente valiosa no espaço. É por aí que a mineração vai
começar", afirma Martin Elvis, astrofísico sênior do Centro de Astrofísica
Harvard-Smithsonian.
Tecnologia
A missão da Nasa não é igual às missões das empresas
privadas. Cada um desses projetos possui cronograma, metas, investidores e
planos de ação distintos. O objetivo principal delas, contudo, converge para a
coleta de minerais de asteroides. Para isso, cada um dos projetos terá que
adequar as tecnologias existentes e moldá-las a seus propósitos. E não será uma
tarefa fácil. Ainda mais que os prazos estipulados, todos na década de 2020,
estão muito próximos - pelo menos, em escala espacial.
Conforme Stephen D. Covey, diretor de Pesquisa e
Desenvolvimento da Deep Space Industries, as tecnologias necessárias para os
planos de sua empresa já existem. Elas precisam, porém, melhorar sua eficiência
e durabilidade. "O desafio está em unir as peças certas, montar uma nave
espacial robótica funcional e lançá-la em um asteroide-alvo apropriado, a um
preço acessível", destaca Covey.
Viabilidade
Há dois bons motivos para que ninguém tenha capturado um
asteroide até hoje: é difícil e caro. Conforme o Instituto Keck de Estudos
Espaciais, em estudo encomendado pela Nasa, a missão completa envolvendo um
asteroide de cerca de 500 toneladas custaria US$ 2,65 bilhões. "Nós
podemos realizar essa missão. Podemos fazê-la de forma rentável? Isso ainda não
está claro para mim, mas estou esperançoso", ressalta Elvis, responsável
pela identificação de asteroides para o estudo.
Encontrar um alvo é apenas início do problema. A fim de que
possa ser capturado, o asteroide precisa ser pequeno, entre 5 e 7 metros de
diâmetro, e ter a órbita certa, no tempo certo, com um tempo longo de
observação. Um veículo para chegar até lá já existe, mas o mecanismo pelo qual
ele coletará esse corpo gigantesco, ainda não. E depois ainda é preciso deixar
o bólido na órbita da Lua. Tudo isso antes da mineração.
Devido às dificuldades, nem todos concordam com a
viabilidade do projeto. "Deslocar um asteroide, mesmo que pequeno, de sua
órbita, não é muito viável - requer muita energia. Além disso, deslocar um
objeto para perto da Terra pode ser arriscado, pois aumenta o risco de
descontrole da órbita do asteroide e de uma colisão catastrófica com a
Terra", salienta o astrônomo Jorge Ricardo Ducati, professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Mineração
Outro aspecto a ser considerado na missão planejada pela
Nasa e pelas empresas privadas é a mineração. Para Elvis, trata-se da parte
mais difícil. "A mineração vai precisar de muita prática no espaço, porque
as condições de gravidade zero, vácuo e temperaturas extremas não podem ser
reproduzidas em terra", alerta.
Ducati também afirma que, no momento, não existem máquinas
automáticas para a mineração, o que implicaria a presença de pessoas para
controlar as operações. "Em suma, a ideia de mineração no espaço é
interessante, mas por enquanto é difícil", declara o astrônomo. Além disso,
Elvis argumenta que mineiros de verdade vão ser necessários. "É aí que os
principais países mineradores, Austrália, Brasil e Canadá, por exemplo, têm uma
vantagem estratégica", afirma.
Empresa no espaço
Enquanto são engendrados os planos para a mineração
espacial, pode-se antecipar suas vantagens. No espaço, os recursos são
praticamente ilimitados. Além disso, sua exploração geraria uma economia em
outras atividades espaciais. "O valor (dos recursos) é multiplicado quando
eles são utilizados na órbita da Terra, especialmente em órbitas
geoestacionárias (onde nossos satélites de comunicação estão colocados) ou até
mais alto", explica Covey.
Isso porque a água pode ser convertida em hidrogênio e
oxigênio para abastecer os foguetes ou como base para assentamentos humanos
(para bebida e agricultura), enquanto os minerais podem ser usados para
construir plataformas de satélites de comunicação e satélites de energia solar.
"Uma vez que tivermos uma empresa rentável no espaço, a economia do espaço
vai crescer exponencialmente. O espaço pode nos ajudar a viver na Terra sem
arruiná-la e nos ajudar a expandir para sempre", finaliza Elvis.
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