Raridade: cometas tornam 2013 ano especial para a Astronomia
O ano de 2013 é raro para a astronomia. Para muitos, pode
ser considerado o Ano dos Cometas. O título se deve à passagem de dois cometas
brilhantes, C/2011 L4 PanSTARRS e o C/2012 S1 ISON, visíveis a olho nu. A
confluência no mesmo ano de dois cometas perceptíveis sem equipamentos de
observação aconteceu pela última vez em 2007.
Esses eventos propiciam verdadeiro espetáculo. Grande parte
da beleza reside na constituição dos cometas, compostos basicamente por gelo,
além de poeira, formada por pequenos fragmentos rochosos e gases congelados.
A cauda de um cometa pode chegar a mais de 150 milhões de
quilômetros (distância média entre a Terra e o Sol). Conforme Marcelo de
Oliveira Souza, Doutor em Física, professor da Universidade Estadual do Norte
Fluminense e Coordenador do Clube de Astronomia Louis Cruls (CEFET - Campos dos
Goytacazes/RJ), devido a perturbações gravitacionais ou colisões com outros
corpos, os cometas passam a seguir órbita próximo ao Sol. Quando isso acontece,
a radiação solar aquece a superfície do cometa e os gelos começam a derreter,
passando do estado sólido ao gasoso, além de desprender a poeira, formando uma
nuvem, composta ainda de gás, em torno do cometa.
"Essa nuvem é chamada de 'coma', que é afetada pela
pressão da radiação da luz do Sol e forma um rastro na direção oposta ao astro,
como se o Sol estivesse 'soprando' a coma, formando, assim, a cauda",
explica Jorge Márcio Carvano, doutor em Astrofísica e pesquisador do
Observatório Nacional, no Rio de Janeiro.
Essa constituição é resultado do processo de formação dos
planetas. "Durante o processo de formação planetária, estes corpos foram
'expulsos' pelos planetas gigantes das regiões onde eles se formaram, para
regiões ainda mais distantes: o cinturão de Kuiper e a nuvem de Oort",
elucida Carvano. O Cinturão de Kuiper fica além da órbita de Netuno, em uma
área que se estende entre 30 e 50 vezes a distância média da Terra ao Sol, em
unidade astronômica (UA). Já em uma região mais afastada, entre 10 mil e 50 mil
vezes a distância média da Terra ao Sol, fica a nuvem de Oort. "O Cinturão
de Kuiper é considerado a origem dos cometas de períodos curtos e a nuvem de
Oort, dos cometas de longo período", esclarece Souza.
PanSTARRS: "Enorme cauda"
Desde o final de fevereiro até a primeira quinzena de março,
o Cometa PanSTARRS esteve visível para nós, brasileiros. Seu período de maior
brilho ocorreu durante seu periélio, quando atingiu o ponto mais próximo do
sol, a 45 milhões de quilômetros de distância, em 10 de março. "Esteve
próximo o suficiente para que uma grande quantidade do gelo que compõe o núcleo
do cometa derretesse e formasse um gigantesco rastro, tornando-se um cometa com
uma enorme cauda", relembra Souza.
A partir de então, o cometa seguiu sua trajetória para se
tornar visível a olho nu para os habitantes do hemisfério norte, e não está
mais acessível aos observadores brasileiros. "Para nossas latitudes, o
cometa aparece durante o dia, de modo que a claridade ofusca o brilho não só do
cometa como dos demais astros", justifica Alexandre Amorim, coordenador de
observações do Núcleo de Estudos e Observação Astronômica José Brazilício de
Souza (NEOA-JBS) e coordenador da Seção de Cometas da Rede de Astronomia
Observacional (REA-Brasil).
De acordo com Amorim, o Cometa PanSTARRS foi bastante
noticiado pelos americanos e europeus por ser o cometa mais brilhante visível
no hemisfério norte desde a aparição do Cometa Hale-Bopp, em 1997. "Os
observadores do hemisfério norte não estavam em posição privilegiada para
acompanhar os cometas C/2006 P1 McNaught (janeiro de 2007) e o C/2011 W3
Lovejoy (dezembro de 2011), e estes dois cometas foram muito mais
espetaculares", argumenta.
ISON: "Bastante ativo"
A expectativa maior é pelo Cometa ISON. Ele deve ser
detectado através de binóculos a partir do mês de outubro, ao amanhecer, e na
segunda quinzena de novembro já deve ser possível vê-lo a olho nu. O ápice do
seu brilho deve ocorrer no seu periélio, em 28 de novembro, quando ele deve
passar a menos de 2 milhões de quilômetros do Sol.
Há a possibilidade de que ele atinja brilho suficiente para
ser discernível em plena luz do dia. "Seria uma rara oportunidade de
experimentar a mesma sensação daqueles observadores que testemunharam a
passagem do Cometa Ikeya-Seki, em outubro de 1965, ou o Cometa Cruls, em
setembro de 1882, quando estes dois astros foram visíveis em tais
circunstâncias", explica Amorim.
No entanto, ainda há dúvidas se o cometa ISON conseguirá
resistir à passagem muito próxima do Sol. "O seu núcleo pode ser
destroçado", aponta Souza. Mas caso ele sobreviva, deve proporcionar um
dos espetáculos mais incríveis da astronomia. Infelizmente, não deve ser
possível observá-lo a partir da maior parte do Brasil.
Segundo Carvano, duas característica em comum entre os dois
cometas são que ambos vêm da nuvem de Oort e estão em órbitas hiperbólicas.
"Este tipo de órbita significa que esta vai ser a primeira e possivelmente
a única vez que eles vão passar próximos ao Sol. Essa combinação de um cometa
'novo', com possivelmente uma boa quantidade de gelos, passando muito perto do
Sol, sugere que o ISON deve ser um cometa bastante ativo", destaca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário... (: